terça-feira, 20 de julho de 2010

Um belo projeto de arquitetura do século XXI.

A real tradução da boa arquitetura contemporânea: programa criterioso e bem atendido, consciência ambiental e preocupação com o entorno: adequação de sua volumetria e de suas fachadas às necessidades do entorno e também às necessidades internas do edifício, atendendo com sucesso às expectativas de investidores, ocupantes e principalmente da cidade. Estas qualidades estão evidentes na esquina da 42nd street com a 8th Avenida em Nova York, no Eleven Times Square, que definiu um novo padrão de design de arquitetura para edifícios altos.

Recentemente concluída, venho acompanhando o andamento desta obra desde seu início, em 2007, ano após ano, como “pedestre-arquiteta”, passando pela 8 Avenida nas muitas e muitas andanças a Nova York, e venho admirando e desejando visitar a obra, desejo que, finalmente, este ano, em junho passado, tive o prazer de concretizar.

Além de atender às necessidades dos investidores e de seus ocupantes (40% do prédio já foi, assim que concluído, imediatamente ocupado por uma única firma de advocacia), tem um desenho único e práticas sustentáveis que vão além até mesmo dos seus vizinhos mais ecológicos e contemporâneos, como o The New York Times Building, a Hearst Tower, e o Bank of America e os pioneiros Conde Nast e Reuters (estes dois últimos, projetos do mesmo escritório de arquitetura do Eleven: FXFowle, que também foi parceiro local do Renzo Piano para o New York Times)

A torre, apesar de ser mais um grande arranha-céu de Midtown, relaciona-se muito bem com as ruas ao seu redor e é uma inserção muito agradável e bem vinda na região. São 40 andares e 1,1 milhão de metros quadrados, mas a torre está longe de se sobrepor à paisagem. Ali, numa das esquinas mais movimentadas do mundo, graças à sua forma, o edifício é dificilmente percebido como um arranha-céu de maneira imperativa.

Isso ocorre graças a uma volumetria criteriosamente estudada, e uma boa percepção do entorno e preocupação com os pedestres. Depois do sexto andar, o edifício recua em relação à rua e mais alguns metros acima novamente recupera a área, criando uma empena negativa, um desenho altamente eficaz (inclusive porque, claro, os andares superiores são mais caros).

Ao caminhar pela 42nd, por exemplo, o edifício não esconde o prédio de Raymond Hood (importante obra art-déco dos anos 30) e até o valoriza. O mesmo acontece no outro sentido, na Oitava Avenida, onde dois vizinhos mais recentes e tão altos quanto o Eleven, um de cada lado, também influenciaram seu desenho: o Westin Hotel, do grupo Arquitectonica, cujo volume conversa diretamente com o edifício, e também os chanfros e detalhes horizontais dos tubos cerâmicos do New York Times Building de Renzo Piano, na esquina ao sul.

O edifício tem soluções de fachada distintas em função da orientação e grande preocupação com a redução do consumo de energia. O escritório FXFowle trabalhou a dinâmica das fachadas de maneira a criar possivelmente o primeiro grande “arranha-céu solar” de Nova York: a fachada sul (mais ensolarada) apresenta brises de alumínio perfurado e seus vidros são mais refletivos que na fachada norte. O sistema utiliza painéis de vidro duplo com gás argônio em seu interior, o que garante melhor isolamento do que teria com vácuo, mais comumente usado. O sistema de fachada é estrutural, o que minimiza os pontos de transferência de calor, pois não há contato do ambiente interno com o externo.

Como quase todos os novos edifícios de escritórios de Nova York na era pós 11 de setembro de 2001, o 11 Times Square foi também construído com um “core” central de concreto e lajes estruturadas em aço, unindo a rigidez e resistência ao fogo próprias do concreto à versatilidade e leveza e à capacidade de vencer grandes vãos do aço. Neste caso, os arquitetos colocaram o “core” na parte interior do “L” que a implantação possui, deixando livres as fachadas e permitindo a ocupação de diferentes usuários nas diferentes fachadas (norte e sul).

A fachada norte é um pouco rotacionada em relação ao core do edifício, segundo os arquitetos, não apenas para evitar a vista do Westin Hotel logo ao lado, mas também para aproveitar melhor a vista do rio Hudson e de New Jersey a oeste, ao menos nos andares superiores.

Nos cantos do edifício, áreas tradicionalmente, nos edifícios comerciais, são valorizadas por serem ocupadas pelas salas de diretores e presidentes das empresas que ocupam o andar, não há pilares, para que as vistas sejam garantidas, sem impedimentos.
Arquitetura e volumetria adequadas, e soluções para reduzir ganhos de calor e perdas térmicas, de modo a diminuir os gastos com aquecimento e ar condicionado, além de tratamento do ar interno.

Realmente, um belo projeto de arquitetura.